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Sofia Amorim

#TBT entre escritas e avós

Queria uma conversa entre as meninas, as mocinhas e a mulher que sou e minhas avós. Queria fazer um #tbt ponte do dia em que lancei meu primeiro livro e a vida dessas muitas mulheres que me compõem.



As minhas avós, muito diferentes uma da outra, fazem parte do meu impulso de escrita na vida adulta. Não entendo ainda por que (nem sei se precisa/quero), mas, quando escrevo ~ principalmente, as narrativas ~ é como se eu sentisse o pulso de cada uma delas em mim.


Já rabisquei essa folha mil vezes, tentando descrevê-las; as palavras pendulam de um lado para o outro: professora de piano, dona de casa, professora de costura; mais delicada, mais incisiva, mais centrada; mais séria, mais brava, mais doce; e, por aí, eu seguiria marcando as diferenças. Talvez, essa marcação traga o ritmo da minha escrita, como nas batidas do peito, alternando vozes de Vera, vozes de Edna, vozes de Mari e minha própria voz, nas pausas intermitentes.


Além das netas, sem saber, não tenho certeza se sabiam, Vera e Edna tinham mais em comum: mulheres, nascidas na década de 1930, passaram por casamentos difíceis e precisaram, cada uma à sua maneira, lidar com uma sociedade machista e misógina. As duas foram mães de três crianças: dois meninos e uma menina, assim como vivenciaram a perda de um bebê. Tanto Edna quanto Vera morreram devido a um câncer.


O fato de eu ter sido a primeira neta das duas não fez com que eu pudesse ter passado mais tempo com elas ou fosse mais mimada por isso, elas morreram quando eu ainda era muito nova. No entanto, esse fato corriqueiro me diz algo.



Outro fato que muito diz: sou uma mulher que tive três avós. Quando meu avô se casou novamente, mesmo sua esposa sendo tão nova, passei a chamá-la de vó. Com vovó Mari, pude conviver mais tempo e sua marca ainda é tão forte em mim que é difícil falar dela sem que não sinta um aperto. A vó dos pontos, do cuidado, da firmeza. Ainda escuto sua voz soar em mim, como se não fizesse quase 20 anos de sua partida súbita.


Entre Vera, Edna e Mari, estou eu: ali, onde as expectativas são criadas, onde as projeções são feitas, onde os melhores desejos brotam.


Não se trata de realizar os sonhos de uma delas ~ nunca soube se chegaram a deslumbrar esses futuros imaginados para mim.


Entre Vera, Edna e Mari, eu, aos 37 anos, mulher, mãe, casada, professora, lançava meu primeiro livro, composto de narrativas e paninhos, resultado da pergunta “o que pode o corpo de uma mulher”. Enquanto pesquisava as mulheres artesãs, a voz das minhas avós me chegava, mesmo não sendo sobre elas as histórias escutadas. Cada linha bordada ou escrita trazia um pouco das marcas das três.


Ali, eu não realizava o sonho de nenhuma delas para mim. Ao mesmo tempo, sentia que, ao realizar o meu próprio, dialogava com o sonho de cada uma ~ talvez, de uma independência, talvez, de uma abertura para o mundo, talvez, de uma possibilidade de liberdade.




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